Ela inverteu o jogo

Rhuanna fez um ensaio sensual por vontade própria, mudou a opinião dos vizinhos e fez a agressora ir morar em outra cidade

Rhuanna Nurryelly, que mora em Garanhuns, Pernambuco, não parece se abalar nem um pouco ao contar sua história. De riso fácil e fala tranquila, dá para perceber que a jovem, de 22 anos, já conseguiu provar a todos que não tem vergonha nenhuma de sua própria imagem.

A garota costumava trocar fotos íntimas com um amigo com quem saía eventualmente. Esse menino mostrou as imagens para um outro amigo que, por sua vez, namorava uma amiga sua. Foi a menina quem espalhou o conteúdo, acreditando que Rhuanna estava se insinuando para o seu namorado:

“Eu vou mostrar à cidade a ‘rapariga’ que você é”

Após descobrir tudo pelo próprio chefe, que mostrou as fotos para ela na academia em que trabalhava como professora de dança, Rhuanna foi afastada do emprego. Muitas alunas não quiseram que seus maridos se aproximassem dela. Mesmo com o trauma, ela não abaixou a cabeça: com a ajuda de amigos fotógrafos, fez um ensaio onde aparece nua para quem quiser ver, só que, desta vez, sob as suas regras. Em entrevista abaixo, ela conta sobre a experiência.

Como foi quando você descobriu que suas fotos haviam sido espalhadas?

Meu chefe chegou pra mim e disse: “Rhuanna, você está sabendo das fotos que estão rolando por aí?” Respondi que não. Ele virou o celular e começou a me mostrar. Eu fiquei gelada, não sabia onde enfiar minha cabeça. A menina espalhou as fotos pelo Whatsapp, e ainda copiou o link do meu perfil no Facebook para as pessoas saberem que realmente era eu.

E qual foi a sua primeira reação?

Eu saí, não conseguia trabalhar. Fui procurar um advogado que explicou que levaria no mínimo seis meses para saber de qual celular as fotos tinham saído, e que no máximo ela ia fazer algum trabalho social ou pagar uma cesta básica. Aí eu desisti. Eu poderia me matar, ficar deprimida, mas a pessoa que divulgou só ia pagar uma cesta básica?

Como isso afetou a sua vida na época?

Você anda na rua, você acha que está todo mundo olhando para você. Eu também tinha acabado de começar a namorar um rapaz, mas ele não aguentou a pressão. Chegou para mim e falou: “Rhuanna, eu não consigo. Os meninos ficam na academia mexendo no celular e rindo. Eu acho que eles estão vendo as suas fotos e rindo de mim”. Então a gente acabou terminando e pronto.

De onde surgiu a ideia de fazer um ensaio sensual?

Eu tinha uns vizinhos que eram fotógrafos e eles souberam da história. E eu queria algo para as pessoas saberem que o corpo é meu e eu faço o que eu quiser com ele. Meu amigo propôs que a gente fizesse um ensaio sensual e lançasse nas redes sociais, falando que todo mundo tem suas fantasias, tem sua sexualidade, que a culpa não era minha. Eu não sou uma vadia ou uma ‘rapariga’ por conta dessas fotos, elas não definem meu caráter.

Qual foi a repercussão?

As pessoas que me criticavam começaram a me enxergar com outros olhos. Mudaram a forma de falar comigo e de olhar para mim. Por fim, a menina que publicou as fotos não aguentou a pressão. As pessoas caíram em cima dela, sabiam que era ela quem tinha feito aquilo. Ela acabou se mudando da cidade onde a gente mora. A situação se inverteu.

Até você fazer o ensaio e mostrá-lo abertamente, como lidou com essa situação?

Foi bastante difícil. Eu tenho um filho pequeno, então me deu bastante medo de as pessoas apontarem o dedo para mim e ele ver isso. Ou de o pai pedir a guarda dele. As pessoas esperam que você esteja deprimida, querem ver seu sofrimento. Na rua você acha que o mundo está olhando pra você, te criticando. Quando você manda as fotos, confia na pessoa, mas a internet é algo incontrolável. Uma das coisas que me fortaleceu muito foi o apoio da minha família, principalmente minha irmã.

Se você estivesse com alguém de que gosta muito e essa pessoa te pedisse, você mandaria fotos íntimas de novo?

Claro! Já mandei depois desse acontecimento, só que hoje é bem mais difícil. Até hoje não consigo confiar nas pessoas, antigamente eu confiava demais. Tenho que confiar a ponto de saber se vale a pena. Para a pessoa gostar de mim, ela não precisa de fotos minhas. Tem que gostar pelo que eu sou.

De tudo o que você passou, o que foi pior?

A pior parte é ver todo mundo, quem lhe conhece e quem não lhe conhece, falando mal de você. Até hoje isso me deixa com raiva. Quando as pessoas vinham criticar, eu tentava mostrar pra elas que eu era vítima, e não culpada. Em relação às fotos, eu superei 100%. Estou até querendo fazer um ensaio novo e chamar um homem para tirar foto comigo, para fazer uma homenagem de um ano.

O que você sente pela garota que espalhou suas fotos?

Nada. Acho que tudo que a gente faz de mal a alguém gera uma consequência. Também não quero encontrar com ela nem com o namorado dela na rua, seria muito ruim, mas eu não fico levando raiva não, porque acho que vai ser ruim para mim. Prefiro deixar para trás, esquecer, fingir que ela não é ninguém.

O que ficou dessa experiência?

Hoje eu sei que posso ajudar pessoas conversando com elas. Tenho que ver o lado bom, então eu vejo como mais uma pedrinha que me fez cair e levantar. Aprendi a ter mais cautela ao escolher para quem vou abrir a porta de casa e com quem vou conversar. Sempre me apoiei muito nos direitos da mulher, do idoso, das crianças, mas eu nunca falei, lutei nem vivi tanto esse direito como depois das fotos.  Comecei a dar valor ao fato de que as pessoas têm direito de defesa, de fazer o que querem, de liberdade de expressão e de outras milhares de coisas.

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