Luiza* foi induzida a achar três amigas para fazer ‘striptease’ para ele, senão ele jogaria seu vídeo em sites pornôs
Era setembro de 2011. Eu saí com uns amigos e voltei para casa de madrugada. Entrei no computador e uma amiga veio falar comigo desesperada. Ela tinha feito um striptease para um cara na webcam e ele disse que gravou e ia jogar o vídeo em sites pornôs se ela não arrumasse três meninas pra fazer a mesma coisa para ele. E ela queria que eu fizesse.
Eu disse que não, que ela estava louca. Mas ela colocou nós três em uma conversa para ver se eu conseguia acalmá-lo. Eu tentei, mas ele estava irredutível. Então ele veio falar comigo em uma conversa privada e começou a argumentar que eu era uma péssima amiga, que eu podia muito bem não mostrar o meu rosto e nada ia acontecer comigo, que era só para ajudá-la.
Eu tinha 16 anos, fiquei desesperada e pensei: se não mostrar o rosto, tudo bem. Então eu fiz, só que algumas vezes a câmera caiu e minha cara apareceu. No final, ele falou para mim a mesma coisa que falou para ela: “Se você não achar mais três amigas, eu vou jogar na internet”. Foi uma corrente, minha amiga também tinha caído nessa por outra pessoa.
Falei que ele estava mentindo, que não tinha como ter gravado, mas ele me enviou um vídeo, dizendo que conhecia gente nos Correios e que ia descobrir meu endereço para mandar as imagens para o meu pai. Eu surtei e não tive coragem de baixar o arquivo. Fiquei desesperada, chorei por dias. Algum tempo depois, minha amiga o ameaçou, falando que o que ele estava fazendo era pornografia infantil e que ia chamar a polícia. Aí ele sumiu.
O mês seguinte ainda foi muito difícil. Não procurei a justiça porque não sei quem ele é. Não tinha nome, endereço ou e-mail verdadeiros, então não sabia nem por onde começar. De vez em quando eu procuro meu nome na internet para ver se acho algo, mas nunca encontrei nada, por isso penso que o vídeo não existe. Bem, é o que eu espero.
São poucas as pessoas que sabem dessa história. Eu prefiro não contar para ninguém para não me sentir mais julgada. Ainda sinto aquele peso: ‘Você poderia ter evitado isso se não tivesse feito’. Mas também sinto que a culpa não foi minha.
Ainda tenho o costume de mandar nudes [fotos em que está nua], mas hoje sou mais seletiva, tomo mais cuidado para não mostrar meu rosto e não envio a mesma foto para mais de uma pessoa, porque se vazar não vou saber quem foi. E também só mando para homens que eu conheço, porque sei que se ele me foder vou poder foder ele de volta.
É uma coisa que eu gosto muito de fazer, porque adoro falar sobre sexo e acho que apimenta a conversa. Tenho um grupo só de nudes no Whatsapp. Juntamos as pessoas mais “cabeça” de um grupo de amigos de faculdade, são três meninas e dois meninos. Sei que não vão espalhar, até porque eu mando fotos para eles e eles mandam para mim. É um pacto.
O revenge porn só vai acabar quando for visto como uma coisa natural. Teve uma menina dinamarquesa que se vingou posando nua. Ela se empoderou, tomou controle do corpo dela. Eu não teria coragem, mas acho que é a única maneira de acabar com isso.
Hoje, sempre que fico com alguém penso: se esse vídeo vazasse ele ficaria do meu lado ou me abandonaria? Com relação ao cara que me ameaçou, sinto muita raiva, mas ao mesmo tempo tenho dó. Pela conversa que tivemos, acho que ele é doente. Sei que parece maldade, mas espero que ele tenha se matado.
*O nome da vítima foi alterado para preservar sua identidade.