Sofia sofreu bullying, chegou a ter bulimia e procurou ajuda psiquiátrica; hoje, criou uma autoproteção
A voz trêmula de Sofia* denuncia seu inferno duplo. Ela tinha 15 anos quando trocava fotos íntimas com um namorado virtual que conheceu jogando um game on-line. Bastou saber que a menina hospedava um servidor em seu computador, o que o deixava “completamente aberto”, nas palavras dela, para que ele ameaçasse expor a sua sexualidade.
Ele havia hackeado seu computador e usava as fotos íntimas de Sofia como uma intimidação: se ela não ficasse com ele, teria suas imagens divulgadas. Foram meses de chantagem, mas Sofia não cedeu. Um tempo depois, o sujeito cumpriu a ameaça. Lá estavam as suas fotos jogadas em uma rede de desconhecidos. Para Sofia, se fossem pessoas próximas, seria muito mais difícil.
Mal sabia ela que, dois anos depois, um outro ex-namorado usaria, de novo, um recurso tão cruel e similar para se vingar de um término de namoro não superado. E, como ela temia, foi muito pior. Dessa vez, após as ameaças, começaram a surgir ligações de estranhos: o agressor não só havia tirado toneladas de print screens (cópias da tela do computador) das relações íntimas que tinham pela webcam, como também havia divulgado suas imagens e telefone em um site de acompanhantes.
“Não contente, ele ligou para o meu pai. Falou das fotos, disse que tinha colocado meu telefone, inventou que eu estava saindo com caras que usavam drogas”, conta. Para alguns, ela passou a ser conhecida como “Sofia, a puta”. O auge do pesadelo havia chegado para ela. Junto com o reconhecimento de pessoas da sua escola, a depressão e a bulimia, a vontade de se matar.
A angústia só foi amenizada com receitas de ansiolíticos e tempo. Uma ressalva para o tempo: ele apagou a dor, mas não apagou as fotos. Em 2013, as imagens chegaram eventualmente até seu atual namorado. Ele achou que era brincadeira.
Agora, Sofia aprendeu a se importar menos com o que as pessoas dizem. Ela guarda uma resposta pronta para quando alguém resolve tocar no assunto, que ainda a constrange.
Ela não considera ter superado tudo completamente e diz ter dificuldade em confiar nas pessoas, mas logo acrescenta que não deixa de fazer nada de que tem vontade por conta do que passou. Questionada se enviaria fotos íntimas para alguém novamente, ela responde:
“Eu mandaria para o meu namorado atual, porque a gente tem uma relação há bastante tempo. Nele eu confio a minha vida, eu sei que ele é uma pessoa íntegra e que não faria isso comigo”.
*O nome da vítima foi alterado para preservar sua identidade.