Você já ouviu a frase “manda nudes”?
A primeira exposição indesejada de fotos íntimas aconteceu antes dos anos 2000, quando ainda não havia “selfies”, Orkut e muito menos um serviço de mensagens e fotos instantâneas tão ligeiro quanto o dos aplicativos WhatsApp ou Snapchat. A história é mais antiga e começa no papel: em 1980, a revista masculina americana Hustler, fundada pelo editor Larry Flynt e em circulação até hoje, pediu aos leitores que enviassem fotos íntimas das parceiras para serem publicadas.
A “campanha”, chamada de “Beaver Hunt”, revelava, além das imagens, algumas informações sobre as mulheres e seu comportamento sexual – muitas vezes com o nome atrelado às fotos expostas. O resultado? Algumas imagens foram divulgadas sem o consentimento ou conhecimento das protagonistas, que processaram a revista.
Annmarie Chiarini, diretora de serviços a vítimas da ONG Cyber Civil Rights Initiative, que presta auxílio a mulheres que sofreram pornografia de vingança, também foi vítima do problema e considera esse o primeiro episódio relevante na história do fenômeno. O crescimento dessa pornografia amadora, que hoje é um grande gênero dentro da indústria pornográfica, é uma das raízes do revenge porn. Carolina Parreiras, socióloga e doutora especialista em gênero, família e pornografia, atribui a prática a “qualquer um munido de uma câmera que tire fotos de conteúdo erótico e torne isso público.”
O prazer de exibir e observar o corpo sempre existiu, o que mudou com o surgimento dos smartphones e a internet banda larga foi a facilidade
No entanto, o prazer de exibir e observar o corpo sempre existiu, assim como os “jogos sexuais”, segundo Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da Safernet, ONG que defende os direitos humanos na internet. O que mudou com a internet banda larga e o surgimento dos smartphones, que tornaram a rede mais democrática, foi a facilidade.
Agora, o volume desse tipo de conteúdo é muito maior e mais fácil de ser compartilhado, tanto em bairros ricos quanto em favelas e periferias, onde o celular também é a principal forma de comunicação. Para Carolina Parreiras, com o processo de inclusão digital, a exposição do corpo e, junto com ela, a pornografia de vingança, tornou-se algo difundido, sem marcadores de classe.
Natasha Felizi, pesquisadora na área de tecnologia e colaboradora da Coding Rights, organização que promove maior interação entre o conhecimento sobre as tecnologias e o processo de concepção de leis e políticas públicas no mundo digital, diz ainda que tanto as tecnologias de reprodução de imagens quanto a prática de tirar fotos íntimas estão constantemente sofrendo uma evolução, como se seguissem uma linha do tempo. Se alguns anos atrás as pessoas precisavam revelar e escanear as imagens para compartilhá-las, passaram a fazer isso com mais facilidade com as máquinas fotográficas digitais e webcams. Já os celulares com câmera frontal permitiram as “selfies” e os “nudes” com ainda mais rapidez, o que provavelmente vai continuar mudando com o tempo.
Precisamos falar sobre nudes
A prática de enviar conteúdos sexuais pelo celular, antes chamada de "sexting", ganhou novo apelido em 2015. Os "nudes", nome para fotos próprias nuas, além de serem levados na brincadeira e virarem memes na internet, são constantemente motivo de polêmica na mídia.
Em setembro, por exemplo, as revistas Trip e TPM reacenderam o debate quando incentivaram seus leitores a enviar fotos sem roupa pelo chat do Facebook, que seriam publicadas nas próximas edições. As revistas postaram que queriam "vazar" os nudes dos leitores - depois, pediram desculpas pelo termo.
No mesmo mês, o ator global Stênio Garcia, de 83 anos, e a esposa Marilene Saade, de 47, tiveram suas fotos íntimas levadas a público, o que também contribuiu para a discussão na imprensa e nas mídias sociais.

Não há registros oficiais sobre quando a pornografia de revanche começou no Brasil, mas um dos primeiros casos que chamou atenção no país foi o da jornalista Rose Leonel, em 2005 – passados dez anos da exposição de suas fotos íntimas, ela ainda tem traumas e até hoje luta para que a pena contra seu agressor seja justa. Segundo dados da Safernet, que presta auxílio on-line a vítimas, as notificações de revenge porn só aumentam. Foram 101 pedidos de ajuda à ONG em 2013, e 224 no ano seguinte, um crescimento de 120%.

Em 2013, duas adolescentes cometeram suicídio em um intervalo de quatro dias após terem imagens íntimas suas divulgadas, o que também fez com que a questão fosse mais discutida por aqui. Uma delas foi a adolescente Julia Rebeca, que se matou aos 17 anos. Além da menina, também apareceu com mais força na mídia o caso de Fran Santos.
O caso Fran
A goiana Francielle Santos, na época com 19 anos, tornou-se uma das mais conhecidas vítimas de revenge porn no Brasil. Após ter um vídeo íntimo filmado e compartilhado pelo ex-namorado, em 2013, a garota mudou de visual e até de cidade. Nas cenas, Fran fazia o sinal de “OK” com as mãos em referência a um ato sexual, imagem que foi espalhada em tom de deboche na internet.
Os números registrados acima pela Safernet – assim como os casos que repercutiram nacionalmente -, no entanto, ainda não mostram a realidade do problema no Brasil: “Essas são as vítimas que procuraram ajuda, pessoas que conhecem e buscaram o serviço da ONG pra obter orientação e informação“, diz a coordenadora Juliana Cunha. “A gente provavelmente tem um número muito maior de pessoas que não pede auxílio, por vergonha ou medo.”
POR QUE ACONTECE: 6 Possíveis explicações para a pornografia de vingança →
Oi bom dia eu estou fazendo um trabalho sobre pornografia de vingança e gostaria de saber onde vcs conseguiram essas informações tem como vcs me passaram as referências bibliográficas ou site que eu possa encontrar mais conteúdo desse tema para ser explorado
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